No circo da vida, a arte de Dedé Santana
- Ney Junior
- 29 de ago. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de abr. de 2023
O multiartista foi o padrinho do Educavídeo no 47º Festival de Cinema de Gramado.
Nascido em Niterói, em 29 de abril de 1936, Manfried Sant’Anna tem origem em família circense. Filho de Oscar - o Palhaço Picolino - , e da contorcionista Ondina, desde os três meses de idade atua nos palcos. A estreia foi na versão do picadeiro de A Cabana do Pai Tomás. Foi trapezista, acrobata, atuou no globo da morte e chegou a incorporar o Palhaço Arrelia, enquanto este gravava seu programa, na TV Record. Seu irmão Dino e seu tio Colé Santana, ambos já falecidos, também se tornaram cômicos.
Para coroar sua vitoriosa carreira e corrigir uma injustiça histórica, Dedé Santana recebeu o convite para apadrinhar o evento infanto-juvenil, onde alunos dos anos finais dos Ensinos Fundamental e Médio da rede pública municipal gramadense produzem seus curtas-metragens e exibem no Palácio dos Festivais.
O início da vitoriosa carreira
Quando atravessou a Baía de Guanabara, dormiu nas ruas e passou dificuldades, até conseguir o emprego de faxineiro em um teatro. Eis que a chance surgiu e tornou-se contrarregra, até o dia em que um ator faltou e Dedé estreou no tablado. O ano de 1961 ainda lhe reservou duas grandes vitórias profissionais: o Prêmio de Melhor Comediante de Teatro e a estreia no cinema, no filme Rio à Noite.
O convite para a televisão veio em 1964, pelo consagrado comediante Arnaud Rodrigues. Na extinta Tupi, com seu irmão Dino, formou a dupla Maloca e Bonitão. Em seu segundo filme, Na Onda do IêIêIê, de 1966, inicia-se a parceria com Renato Aragão. No mesmo ano, formou com Renato, o cantor Wanderley Cardoso e o lutador Ted Boy Marino, Os Adoráveis Trapalhões, na extinta TV Excelsior. Com as saídas de Cardoso e Ted, entraram Antônio Carlos Bernardes (o Mussum, cantor e sambista dos Originais do Samba), em 1972, e Mauro Gonçalves (o Zacarias, musicista e ator de teatro), em 1974. Assim, consolidou-se o quarteto que marcou o humor brasileiro, Os Trapalhões. Na trupe, protagonizou 39 longas-metragens, entre 1965 e 2017. Após uma breve cisão, em 1983, o grupo retomou as atividades em 1984 e seguiu até 1993.
A vida após os Trapalhões
As mortes dos companheiros Zacarias, em 1990, e Mussum, em 1994, abalaram Didi e Dedé, que conduziram juntos a campanha Criança Esperança até 1996. Após a separação da dupla, participou da Escolinha do Barulho (Record TV, 1999), como um dos professores, e, na Rede Globo, nos humorísticos Zorra Total (2000) e Quem te viu, quem te vê (2004). Ainda em 2004, reatou a amizade com seu velho companheiro.
Em parceria com o empresário Beto Carreiro, atuou em A Praça é Nossa (2004/2006) – onde reencontra Carlos Alberto de Nóbrega, amigo e um dos redatores de Os Trapalhões entre 1975 e 1986 - e Dedé e o Comando Maluco (2005/2008), comédia com dinâmica circense e sucesso no SBT, até a morte do seu sócio. Em 2008, 14 anos após o fim dos Trapalhões, volta à Rede Globo, para atuar com Renato em A Turma do Didi e As Aventuras do Didi.
Em todas as artes
Com a saída do ar do programa global, voltou ao cinema. Encenou Meu Pai é Figurante (de 2011, personagem Jacinto), O Shaolin do Sertão (2016, Seu Zé), A Repartição do Tempo (2018, Almeida) e Antes que eu me Esqueça (2018, Gregório).
No picadeiro, retomou atividades em São Gonçalo, com O Circo do Dedé Santana, inaugurado em 2011, e montou O Circo da Turma da Mônica, em 2018, em parceria com Mauricio de Sousa, com quem trabalhou nos filmes Os Trapalhões no Reino da Fantasia (1985) e Os Trapalhões no Rabo do Cometa (1986). No teatro, desde 2018, atua com Fioravante Almeida na tragicomédia Palhaços, de Timochenko Wehbi (1943-1986), escrita em 1974.
O mais sério Trapalhão e multifacetado artista das mais diversas ribaltas, merece a homenagem que recebeu no consagrado evento cinematográfico da Serra Gaúcha. Após mencionar várias vezes a vontade de conhecer o Festival de Cinema de Gramado, a hora chegou. Todos os aplausos são poucos àquele que, junto com seus imortais parceiros, faz rir há pelo menos três gerações e marca, a cada novidade, o seu nome na galeria da arte brasileira. Salve, Dedé!
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