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A identidade do futebol brasileiro: entre o futebol-arte e o pragmatismo

  • Foto do escritor: Ney Junior
    Ney Junior
  • 13 de dez. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 14 de abr.

O resgate do DNA do futebol brasileiro em 2019 por dois treinadores estrangeiros

Jesus e Sampaoli, campeão e vice brasileiros, se encontram em Santos 4x0 Flamengo. Foto: Mauricio de Souza / Diário do Litoral
Jesus e Sampaoli, campeão e vice brasileiros. Foto: Mauricio de Souza / Diário do Litoral

O encantamento que as exibições de Flamengo e Santos despertaram nos espectadores e em muitos cronistas esportivos, a partir do segundo semestre de 2019, reacende o debate sobre a identidade do futebol brasileiro, que transcende os clubes e atinge, inclusive, a Seleção Brasileira, uma das maiores instituições esportivas mundiais.


Historicamente, o jeito Brasil de jogar privilegiava o ataque, o toque de bola e o talento individual. As gerações dos três primeiros títulos mundiais imortalizaram jogadores pelo seu talento e seu caráter decisivo. Algumas derrotas marcantes, como para a Holanda (em 1974) e Itália (1982), alertaram a torcida, treinadores e a imprensa a reverem alguns conceitos para o time canarinho retomar a hegemonia mundial.


Os efeitos colaterais da Copa de 1982


Nos torneios continentais da década de 1970 e do início dos anos 80, pouquíssimas conquistas. Entre os clubes, após o Santos de Pelé, bicampeão mundial em 1962 e 1963, apenas o Flamengo, em 1981 venceu com o futebol-arte. O Cruzeiro, em 1976, e o Grêmio, em 1983, aliaram talento e competitividade, e mostraram outras faces vitoriosas do nosso futebol. A Seleção, favorita em 1982, perdeu a partida para a pragmática Itália e, a partir dali, o encantamento em campo.


A segunda metade dos anos 80 não foi nada positiva para os brasileiros na Libertadores da América, que assistiram conquistas uruguaias, colombianas e paraguaias. A Seleção venceu a Copa América de 1989, em casa, mas jogou de maneira diferente do que a torcida estava acostumada: taticamente, privilegiou a defesa em detrimento ao ataque, embora com ótimos atacantes - Bebeto, Careca, Romário e Müller. A retranca, as más atuações e a eliminação precoce na Copa de 1990 aumentaram o jejum mundial e motivaram o debate que permanece até hoje: o importante é apenas vencer ou também ter um jogo vistoso quando possível?


Em duas décadas, poucos Mundiais Interclubes


Nos anos 90, várias das grandes equipes do país foram campeãs do maior torneio continental: São Paulo (1992-1993), Grêmio (1995), Cruzeiro (1997), Vasco (1998) e o Palmeiras (1999). Mas, à exceção do Tricolor Paulista, os demais perderam suas decisões de Mundiais Interclubes para os europeus. A Seleção Brasileira ganhou a Copa do Mundo de 1994, aliando disciplina tática e os talentos remanescentes dos Mundiais anteriores, o que reforçou o argumento dos críticos ao jogo bonito. Em 1998, um time de craques e atuações irregulares, até a derrota para a França, na final.


As vitórias na Copas do Mundo de 2002, América de 2004 e 2007 e das Confederações de 2005, 2009 e 2013, com treinadores do mesmo perfil tático, evidenciam o legado da estratégia de defender para depois atacar. Nos clubes, São Paulo (2005), Internacional (2006 e 2010), Santos (2011), Corinthians (2012) e Grêmio (2017) ganharam o continente, mas apenas colorados, em 2006, e corinthianos, em 2012, viram suas equipes campeãs mundiais no Japão. Ambos com a disposição tática mais defensiva do que ofensiva.


A melhor defesa é o ataque


Chegou a hora de resgatar o futebol expressivo que admiramos em equipes como o Barcelona, adotado pelo holandês Rinus Michels - pai do “Futebol Total”, no início dos anos 70 -, e retomado pelo espanhol Pepe Guardiola, há uma década. Campeão das ligas espanhola, alemã e inglesa, Guardiola já admitiu publicamente a sua inspiração tática na escola brasileira dos bons tempos.

Em 2019, dois estrangeiros, o português Jorge Jesus e o argentino Jorge Sampaoli, entenderam que, além de vencer, o que agrada ao torcedor é ter prazer em assistir ao seu time jogar. Privilégio dos flamenguistas, que veem seu milionário time ser efetivo, campeão brasileiro e continental lhes dar prazer, e dos santistas, que aplaudem o alvinegro da Baixada ser vice-campeão brasileiro jogando como lhes agrada.

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