O pachequismo bienal brasileiro
- Ney Junior
- 15 de ago. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 15 de abr.

A Olimpíada de Paris 2024 acabou neste domingo (12) e, com ela, uma espécie insuportável de torcedor saí, temporariamente, de cena: o pachecão. A cada dois anos - entre Copa do Mundo de Futebol e Olimpíada -, ele acorda para perturbar o torcedor convencional, que acompanha o esporte, sabe das regras e entende algumas decisões que o grande público fica em dúvida.
Inspirado no personagem Pacheco, o otimista inveterado e, muitas vezes, inconveniente, da obra A Correspondência de Fradique Mendes, de Eça de Queiroz - uma sátira à situação de Portugal, no final do século XIX -, esta persona acredita que as equipes brasileiras são prejudicadas de maneira intencional, pois o verde e amarelo sempre prevalece em relação a resto do mundo.
Pacheco na Copa de 1982
Na euforia da Copa do Mundo de 1982, a AlmapBBDO resgatou Pacheco como torcedor-símbolo e lançou a ideia para a campanha publicitária da Gillette. Além de um boneco nos anúncios impressos - elaborado pelo cartunista Wilson José Peron (1957-2022) -, a empresa levou Natan Pacanowski, funcionário da empresa, para acompanhar a Seleção brasileira naquela Copa. Ele vestiu a fantasia e incorporou o papel, o que gerou reclamações, inclusive do treinador Telê Santana e Medrado Dias, chefe da delegação,
Se a Seleção ganhasse aquela Copa, Natan viajaria por todas as sedes da empresa pelo mundo. O Brasil perdeu, ele ganhou um automóvel Gol e muitas críticas públicas. Assim, pachequismo virou sinônimo de fanatismo folclórico, exibicionista e chato.
O pachequismo na TV: Araken e Galvão Bueno
Para lançar a linha de shows da TV Globo em 1986, a emissora contrata o ator e produtor Barrinhos Freire. Seu sucesso o insere na campanha global para a Copa de 1986 e o roteirista Alexandre Machado sugere o personagem Araken, o Showman, o torcedor que cobra, ri do adversário e exagera no fanatismo. Mais uma derrota da Seleção e um personagem que caiu na galhofa. Ele ainda voltaria na TV Manchete para a Olimpíada de Seul 1988.
Na crônica esportiva, nenhum simbolizou este torcedor do que o narrador Galvão Bueno, em seus 40 anos de TV Globo. No futebol, na Fórmula 1 - com o crescimento de Aytron Senna - e nos esportes olímpicos, a partir de Seul'88, criou slogans como Ayrton Senna do Brasil, Sai que é sua, Taffarel, Ganhar da Argentina é bem melhor e Giba neles.
Torcia de maneira exagerada, como se fosse um telespectador ao microfone de maior alcance no Brasil. Em seu documentário, Galvão: Olha o Que Ele Fez, ele não rebate estas críticas e coloca-se como um vendedor de emoções.
Daqui dois anos, com certeza, se a Seleção não sair do jejum de títulos mundiais no futebol, veremos novamente o pachequismo, nas redes sociais, de que o Brasil foi prejudicado, por parte de quem não acompanha o futebol, nem o seu próprio clube e desconhece as regras do esporte mais popular do planeta.
Amei relembrar o passado. Eu lembro do Arakem!!!😂😂😂
Excelente!!