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A voz melódica do samba se cala

  • Foto do escritor: Ney Junior
    Ney Junior
  • 31 de mai. de 2021
  • 4 min de leitura

O intérprete Dominguinhos do Estácio morre, aos 79 anos, em Niteroi


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Cria do Morro de São Carlos, o cantor e compositor Dominguinhos do Estácio (1931-2021) morreu, dia 30, após vinte dias internado, em razão de uma hemorragia cerebral. Prestes a completar 80 anos, imortalizou sambas de enredo e sambas-canção em sua voz afinada, dicção perfeita e carisma inigualável.


Sua estreia como cantor de escolas de samba foi em São Paulo, pelo Vai-Vai, em 1974, com Samba, Frevo e Maracatu (com Theo da Cuíca e Bulau). Onze anos depois, em 1985, cantou Ginga Brasil Moreno pelo Camisa Verde e Branco. Como compositor, tem os sambas do bicampeonato, 2017 e 2018, da Acadêmicos do Tatuapé, além de 2021 da mesma agremiação e do Águia de Ouro.


Estácio era o seu amor


Em terras cariocas, participou como apoio na Unidos de São Carlos entre 1972 e 1975. Em 1976, defendeu o samba de sua autoria na quadra e foi para a avenida como voz principal: Arte Negra na Legendária Bahia (com Caramba e Caruso). Seguiu até o carnaval de 1977, com samba de sua autoria solo. Em 1978, rumou para a Acadêmicos de Santa Cruz. Em 1984, retorna para a antiga São Carlos, já com o nome de Estácio de Sá. Emplaca Quem é você? (1984, com Darcy do Nascimento), Prata da Noite (1986, com Darcy do Nascimento) e o sucesso Tititi do Sapoti (1987, com Darcy do Nascimento e Djalma Branco), de grande execução em rádios, bailes e shows de sambas. Deu bode no carnaval seguinte, em 1988, mas sua história com a escola estaria longe de acabar.


Voltou à sua raiz para o consagrador carnaval de 1992. Nos 70 anos do Modernismo, Pauliceia Desvairada conduziu a Estácio ao maior desfile de sua história e ao primeiro campeonato. Em 1993, cantou A Dança da Lua, mas problemas com o carro de som impediram um melhor resultado. Nos anos seguintes, cantou os centenários da SAARA e do seu clube do coração, o Flamengo. Mesmo após a saída, venceu os sambas de 2000 e 2015 na pioneira das escolas de samba.


Em Ramos, momentos marcantes


Na Imperatriz Leopoldinense, entre 1979 e 1982, quatro inesquecíveis sambas de sua autoria. Reluziu, bicampeão, ao cantar e compor O que que a Bahia tem (em 1980, com Darcy do Nascimento) e Só dá Lalá (em 1981, com Darcy do Nascimento e Gibi, parceiros também no samba de 1979, e reeditado em 2020). Onde Canta o Sabiá (1982, com Darcy do Nascimento e Tuninho), não trouxe o tricampeonato, mas marcou a história da Imperatriz e de Domingos, que não permaneceu após perder a disputa do samba para 1983.


Em 1989, a Rainha de Ramos, abriu-lhe, novamente as asas. Dominguinhos defendeu o inesquecível samba Liberdade, Liberdade! Abra as asas Sobre Nós (de Preto Joia, Vicentinho e Jurandir) e conduziu a escola a um título marcante. Permaneceu para o carnaval de 1990, saiu e retornou em 1996, quando o samba de sua autoria (com Demarco, Jurandir e Carlinhos China) emoldurou o enredo sobre a imperatriz Leopoldina. Defendeu na quadra, cantou no desfile oficial e conquistou o Estandarte de Ouro de melhor samba, mesmo com o vice-campeonato.


Sua última passagem pela verde, branco e ouro foi entre 2010 e 2013. Brilhou no samba Brasil de Todos os Deuses (2010). Em 2011, após o desfile sobre saúde, curiosamente, sofreu um enfarto. Em 2012, interpretou o samba sobre o centenário de Jorge Amado e encerrou sua passagem em 2013, em homenagem ao Pará, Estado onde cantou durante anos e era devoto da Virgem de Nazaré


Olha a Viradouro chegando!


Na Baixada Fluminense, cantou na Grande Rio, de 1989 até 1991, e na Inocentes de Belford Roxo, em 2009. Mas, onde deixou sua marca foi na Viradouro, onde foi a voz principal durante onze carnavais consecutivos (de 1997 até 2007). Compôs o samba e cantou no desfile campeão de 1997, Trevas! Luz! A Explosão do Universo. Além deste samba, compôs as obras de 2000, 2005 e 2007.


Outros sambas de muito destaque em sua voz foram Orfeu, o Negro do Carnaval (1998), a homenagem à Bibi Ferreira (2003) e a reedição de Festa do Círio de Nazaré, da Estácio de Sá, de 1975, no carnaval de 2004. Cantou A Viradouro é Só Sorriso, Arquitetando Folias e A Viradouro Vira o Jogo nos anos seguintes, antes de sair, após o concurso de samba para 2008, devido a desentendimentos com a diretoria da época. Entretanto, do samba eliminado para aquele carnaval, surgiu o samba-exaltação da Viradouro, que a comunidade imediatamente abraçou.


Na vermelho e branco de Niteroi, atingiu uma marca inédita até hoje. É o único intérprete campeão por três agremiações diferentes, na Sapucaí (1989, pela Imperatriz; 1992, pela Estácio de Sá; 1997, pela Viradouro).


Gravou nove discos de carreira e participou do grupo Puxadores do Samba, entre 1999 e 2000, com participação no Festival de Música da TV Globo. Desfilou no carnaval de Uruguaiana em 2006 e, durante muitos anos no carnaval de Belém do Pará (1982 até 1986, e 2014), cidade onde casou-se e tornou-se devoto da Virgem de Nazaré, que abençoou-o e conduziu-o até a sua partida ao mundo espiritual.

 
 
 

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