Cultura e reflexão nos sambas de 2019 em SP
- Ney Junior
- 23 de jan. de 2019
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de abr.

Gravado ao vivo, repetindo o formato do ano passado, o álbum duplo de sambas-enredo dos Grupos Especial e Acesso 1 paulistano, disponível nas principais plataformas digitais, traz suas músicas em dois eixos temáticos: as reflexões, com ideais, críticas, abstrações e filosofia; e a variedade cultural, com traços e fatos históricos, lendas e brasilidades.
A luta, o clamor e a filosofia

Da Zona Leste de SP, a atual bicampeã Acadêmicos do Tatuapé mostra a bravura dos guerreiros brasileiros e mundiais nas batalhas diárias. Da Cantareira, vem a Tucuruvi, repleta de esperança, ecoar "Liberdade, o canto retumbante de um povo heroico". A Águia de Ouro, de volta ao Grupo Especial, critica a sina da corrupção no Brasil e clama aos brasileiros a construírem o país que tanto desejam.
A Tom Maior provoca as questões existenciais e filosóficas humanas em Penso, logo existo – As interrogações do nosso imaginário em busca do inimaginável. Na odisseia pelo campeonato, a Dragões da Real divaga sobre a invenção do tempo e suas influências na vida humana.
História e diversidade

A Colorado do Brás, que volta ao Grupo Especial após 25 anos, canta com leveza o Quênia, com Hakuna Matata, isso é viver. A Mancha Verde exalta a Princesa Aqualtune de Palmares, que lutou contra a escravidão e a intolerância religiosa. A maior vencedora do carnaval paulistano coroa seu patrimônio com Vai-Vai, o Quilombo do Futuro. A X-9 Paulistana aclama o sambista Arlindo Cruz, que completou 60 anos em 2018.
Nas asas do condor, a Vila Maria viaja à Nação Peruana, o Império do Sol dos incas. Aguerrida, a Mocidade Alegre inspirou-se na lenda indígena “Ayakamaé; as águas sagradas do sol e da lua” para voltar a vencer. A Rosas de Ouro, com Viva Hayastan, saúda a história de resistência do povo armênio.
Para voar alto novamente, a Gaviões da Fiel reedita o seu popular samba de 1994, sobre o tabaco: A Saliva do Santo e o Veneno da Serpente. Em homenagem ao cinema mundial, o Império de Casa Verde contra-ataca e promete uma obra à altura da Sétima Arte na passarela do Anhembi.
Pluralidade nos sambas do Acesso 1

A realeza do samba é celebrada pela tradicionalíssima Nenê de Vila Matilde, em um tributo à Portela, e pela estreante Mocidade Unida da Mooca, que louva a origem dos pavilhões das escolas de samba da cidade.
A negritude é destaque na Unidos do Peruche, com o legado africano pelo mundo, e na Pérola Negra, com a força histórica das mulheres negras. A Leandro de Itaquera conta a lenda de Ubatuba, caboclo da falange de Oxalá, e a Barroca Zona Sul clama a Oxóssi, orixá senhor das matas, a energia para mais um grande desfile.
Para retomar o lugar na elite, a Independente Tricolor aposta no amor, inspirada no clássico A Divina Comédia, do italiano Dante Aligheri. Primeira tetracampeã, entre 1974 e 1977, o Camisa Verde e Branco veste a fantasia dos clássicos musicais infantis para resgatar os bons tempos.
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