Morre Mário Borriello, artista além do carnaval
- Ney Junior
- 12 de mar. de 2023
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de nov. de 2023

Morreu, no Rio, aos 77 anos, o artista plástico, cenógrafo e carnavalesco Mário Borriello. Durante dois nos, o artista lutava contra a leucemia. Nasceu em Coral, na Itália, migrou com a família para o interior de São Paulo e mudou-se, ainda na infância, para o bairro carioca de Botafogo.
Formou-se em Artes Plásticas no Instituto de Belas Artes e Desenho Industrial na Holanda, onde morou alguns anos e aperfeiçoou seus traços, que o Brasil conheceria, seja em diversas vitrines de lojas cariocas, nas telas e no carnaval carioca.
Dos bailes à consagração no Salgueiro
Desfilou sua arte em vitrines de diversas lojas cariocas e desenhando fantasias de luxo para concursos dos bailes do carnaval carioca, a partir de 1964, onde conquistou diversos prêmios de Originalidade Feminina e Masculina, com destaque às fantasias “Os Havaianos” e “Anjos de Palha”. Com isso, compartilhou ainda mais seu talento na folia, ao vestir destaques das escolas de samba da Cidade Maravilhosa.
Sua ascensão a carnavalesco aconteceu nos preparativos do Salgueiro para o Carnaval de 1992. Substituiu, em outubro de 1991, os então carnavalescos Flávio e Rosane Tavares. Conduziu os preparativos salgueirenses, que representou o enredo “O Negro que Virou Ouro nas Terras do Salgueiro”, sobre a saga do café no Brasil. Mesmo sem o campeonato, marcou o carro abre-alas, que trouxe a esculutra de um Preto Velho socando o café. Desde então, a escultura permanece abençoando o barracão salgueirense.

No ano seguinte, a consagração. Foi o carnavalesco do inesquecível desfile Peguei um Ita no Norte, que provocou uma verdadeira catarse na Sapucaí, no desfile de 1993. Além do samba contagiante, imortalizado pelo refrão Explode Coração, as fantasias das alas e alegorias retrataram as viagens do navio Ita, de Belém do Pará ao Rio de Janeiro. O enredo nasceu a partir da inspiração na música homônima de Dorival Caymmi. O povo canta até hoje o samba, o desfile é um dos que têm mais acessos no Youtube e a obra de Borriello tornou-se imortal a partir de então. O enredo ganhou o Prêmio Estandarte de Ouro do Jornal O Globo.
A passagem por diversas escolas
Não prosseguiu no seu Salgueiro amado para 1994 e voltou à folia em 1995. Pesquisou, desenhou e assinou o enredo sobre o centenário do Clube de Regatas do Flamengo, seu clube de coração, em outra vermelho e branco: a Estácio de Sá. A fundação, como clube de regatas, as rivalidades desde aqueles tempos, o surgimento do futebol, as diversas conquistas, nomes inesquecíveis no esporte olímpico – como Érica Lopes, conhecida como Gazela Negra, atleta dos 100 e 200 metros, campeã carioca e nacional pelo rubro-negro -, até as conquistas cariocas, nacionais, continentais e mundial do Flamengo. Apesar de não voltar para o Desfile das Campeãs, marcou os corações flamenguistas e voltou reeditado pela própria Estácio em 2022.
Voltou ao Salgueiro em 1997, com o enredo De carnavalesco e louco, todo mundo tem um pouco, sobre arte e loucura, e proporcionou, em 1998, um dos melhores conjuntos plásticos daquele carnaval, com Parintins, A Ilha do Boi-Bumbá: Garantido X Caprichoso, Caprichoso X Garantido. Nos anos seguintes, assinou Uma rua chamada Brasil e Pra não dizer que não falei das flores, pelo Império Serrano e União da Ilha do Governador, respectivamente.
Em 2003, nas cores da Porto da Pedra, traz Donos da Rua, um jeitinho brasileiro de ser, que mostrou a diversidade das ruas do Brasil. Nos dois anos seguintes, decora as ruas de diversos locais do Rio de Janeiro, para o carnaval. Ainda em 2005, leva à tradição o enredo De sol a sol, a soja, um negócio da China”. Seu último enredo no Grupo Especial, em 2008, de volta à Porto da Pedra, traz outra homenagem ao Oriente: 100 anos da Imigração Japonesa no Brasil, tem pagode no Maru.
Os figurinos de Borriello na TV Globo
Além dos carnavais, Mário Borriello foi cenógrafo-auxiliar em diversas novelas da Rede Globo, como Pai Heroi (1979, de Janete Clair), Marrom Glacê (1979, de Cassiano Gabus Mendes) e Chega Mais (1980, de Carlos Eduardo Novaes).
Também participou da cenografia do Sìtio do Pica-pau Amarelo (1981), musicais como Pirlim-pim-pim I e Pirlim-pim-pim II, ambos especiais infantis globais de 1982,que homenagearam os 100 anos do escritor Monteiro Lobato, e Plunct Plact Zum (1983).
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